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Professor Tito Romeu.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Karuna Mudita: compaixão e sorriso contagiantes

Jaume Sanllorente precisava de férias. Era jornalista de economia e ainda trabalhava num restaurante onde se reuniam celebridades. Quis viajar. Mas foi à agência sem ideias. Desafiam-no a ir à Índia. Vai. Não gosta à primeira. É uma sociedade demasiado chocante: ao lado da ostentação dos ricos, expõe-se a indigência e a tragédia dos pobres, que vivem na rua e da rua. Ali dormem, pedem esmola e suportam todo o tipo de abusos. Regressa à Índia para conhecer Mumbai (antiga Bombaim). Esta segunda viagem muda por completo a sua vida. O seu lema é «Ser feliz é fazer felizes os outros.»

Mumbai é a maior cidade da Índia. Nela vivem 13 milhões de pessoas. Na periferia habitam mais sete milhões. A cidade atrai indianos de todo o país, porque nela está a grandiosa indústria de cinema e televisão Bollywood – a mais produtiva do mundo – e abriga instituições financeiras importantes.

«Mumbai tem uma cor triste, cinzenta» esta é a primeira impressão que Jaume Sanllorente, espanhol de Barcelona, de 30 anos, tem quando começa a percorrer as ruas da cidade. São as cores do pó da terra, da poluição dos ares, dos trajes andrajosos da população piolhosa, faminta e doente, que pede esmola à janela dos carros, nas esquinas ou nos passeios da rua, onde outros dormem.

Os pobres de Mumbai pertencem à classe mais baixa da Índia. É certo que o Governo já ditou o fim do sistema das castas em meados do século xx, mas aquele permanece.

Os dias das segundas férias de Jaume passam. Todavia, deixam-lhe marcas que nunca mais pode apagar. Choca-se com o que vê. Não consegue habituar-se a ver por toda a parte hotéis e automóveis de luxo a par com crianças seminuas, doentes, subnutridas, que pedem esmola, com a cara, os braços, o corpo cheios de crostas e de infecções.

Imersão num mar de lata

Um dia, o taxista finge perder-se no trajecto e alonga a viagem. Passa por uma zona de barracas. É um «mar» de lata a perder de vista. Jaume atreve-se a pedir ao taxista que o deixe sair. Percorre o «slum» a pé. E apercebe-se do ofício daquelas pessoas: vão às lixeiras, separam os detritos e vendem-nos a empresas de reciclagem. Esta é a vida da família de nove pessoas, que vivem naquela minúscula casa feita com cartão e fibrocimento, a primeira barraca em que ele entra. Oferecerem-lhe um refrigerante – a ele que era um estranho –, e aquela generosidade toca-o profundamente.

O convívio, porém, é interrompido bruscamente pelos gritos, vindos de o exterior, de uma mulher. Estava a ser espancada pelo marido. Tudo porque já não rendia como antes no trabalho. Mas a causa do insucesso da mulher era o estado lastimável da sua perna. Ela teve um acidente e feriu-se. Por recolher lixo, a ferida infectou e a perna estava a apodrecer (gangrenava). O homem, desde então, como não podia contar com a mulher, levava os filhos, de 8 e 5 anos, para trabalharem na lixeira.

Este episódio deixa Jaume abalado: ele, o jovem de Barcelona, amante dos passeios de moto, habituado aos caprichos das celebridades, revolta-se, porque, no mesmo mundo, à mesma hora, enquanto uns se banqueteiam, na mais pura indiferença, outros sofrem horrores, porque os seus direitos humanos são desrespeitados. E conclui: «Aquelas crianças eram alegres mas não felizes. A felicidade só é possível se tivermos a liberdade de escolher entre várias opções. E elas não a tinham.» Jaume não abandona o lugar sem providenciar tratamento para a perna gangrenada.

Amor pelos indefesos

Os «slums» de Mumbai alojam mais de um milhão de famílias, num total de sete milhões de pessoas. O rendimento médio de cada aglomerado familiar – pelo menos sete pessoas – mal chega ao equivalente a 30 euros por mês.

Estando de passagem pela cidade, Jaume quer levar boas recordações turísticas. Mas são os bairros-de-lata que o atraem. Vai até Borivali, na zona norte da cidade. Ele é simpático, de sorriso fácil. As crianças não demoram a correr para ele, também sorridentes. Na pele levam as marcas da sarna. Ao longe, porém, ouve-se o choro de uma mulher, enquanto pronuncia um nome: «Kavita.» Chora a filha, de apenas um mês, que o pai afogou.

Jaume pega no corpo roxo de Kavita e ouve a razão que a condenara à morte: por ser menina, a família teria de pagar um dote. Para não o fazer, por ser pobre, o pai matou-a.

A poucos dias de regressar a Espanha, visita a Mesquita de Aju Ali. No percurso até ao templo muçulmano, dezenas de pessoas pedem-lhe esmola. Uma menina linda e vivaz, que o olha fixamente, atrai-lhe a atenção. Chama-se Noor – significa luz – e tem 10 anos. Jaume pergunta-lhe se vai à escola. Ela responde que não, que trabalha com a mãe, pedindo esmolas aos turistas. Gostava de ir, mas não pode. E a mãe ensina-lhe.

Jaume deixa-se cativar e, num gesto de ternura, convida Noor para comer um gelado com ele. Todavia, é ele quem congela. A menina levanta a saia e deixa expostos os cotos das pernas. Alguém lhe tinha amputado os membros inferiores à altura da coxa para que metesse mais pena quando fosse mendigar. E Jaume lembra-se das outras crianças a quem cegam, a quem roubam rins, a quem mutilam de diferentes formas. E odeia as pessoas sem escrúpulos.

Sorrisos de Bombaim

Nas últimas 24 horas em Mumbai, Jaume realiza o último desejo: conhecer um orfanato. Visita uma casa pequena, que é o refúgio para 40 crianças. Atul Sharma, responsável pelo orfanato, chamado Karuna – que significa piedade actuante –, explica-lhe: «Os pais ou parentes alugam as crianças aos mendigos por 20 rupias [30 cêntimos] ao dia. Quanto mais chorarem e pena provocarem, mais ganham.» E uns estranhos, proxenetas de algum bordel e exploradores de mão-de-obra infantil, rondavam o orfanato, desejosos que ele fechasse, para levarem as crianças.

Regressado a Espanha, Jaume só pensa numa coisa: reunir dinheiro para sustentar o orfanato e salvar aquelas crianças. Com esforço, vencendo contrariedades, optimista e corajoso, consegue-o. E percebe que é preciso ainda outra coisa: deve deixar tudo, a sua terra e ir viver e trabalhar com as crianças de Mumbai. Então, cria a ONG Sorrisos de Bombaim. O orfanato Karuna expande-se e funciona como escola. A ONG providencia cuidados de saúde às crianças e às suas famílias. Actualmente, apoia também doentes de lepra.

Conhece esta obra no sítio www.sonrisasdebombay.org. Também podes ler o livro «Sorrisos de Bombaim», da Sextante Editora.

fonte:audacia

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