Coerência entre vida e lecionação é essencial para aulas onde também há reprovações e problemas disciplinares
Lisboa, 28 set 2011 (Ecclesia) – Afirmar as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) entre estudantes, pais e professores, num contexto onde por vezes se espera da disciplina o que ela não pode dar, constitui um dos desafios colocados aos seus docentes. “Muitos alunos vão à partida com a ideia errada e nós temos de os conquistar”, relata à Agência ECCLESIA o professor Marco Bernardino, com 10 anos de experiência de lecionação, acrescentando que alguns jovens estão contrariados nas aulas porque os pais os obrigaram a inscrever-se. Os horários da disciplina, frequentemente colocados à primeira ou última hora, ou durante o período do almoço, constituem motivos de desmotivação, o mesmo acontecendo quando alguns alunos ficam a saber, contra as suas expectativas, que não vão fazer passeios a cada trimestre. O regime de faltas e os critérios de avaliação também costumam apanhar os jovens desprevenidos: “Por vezes tenho de ter conversas duras ao início. Explico que damos matéria e estamos numa sala de aula, mas com a colaboração de todos pode tornar-se muito mais interessante”. “A disciplina ajuda a criar um ambiente descontraído”, refere o docente de 38 anos, mas antes é preciso ser firme: “Já tive confrontos e ameaças mas nunca me atemorizei. Com o tempo ajudei-os a encontrar a fórmula certa para estarem na sala de aula e respeitarem os colegas e o professor, mesmo em ambientes muito adversos”. A relação com os colegas docentes e responsáveis das escolas pode ser difícil: “Houve estabelecimentos em que os diretores de turma iam ver os sumários que eu escrevia. Alguns questionaram o que eu dava nas aulas, se falava sobre a Igreja ou sobre a sua doutrina social, e perguntavam se os alunos escutavam”, explica Marco Bernardino. “Nas inscrições [para o ano letivo] acontecem outros casos. Nunca gostei de me impor e estar presente, mas há colegas que desincentivam a inscrição por causa dos horários de EMRC e do seu regime de faltas [idêntico ao das restantes disciplinas]. Na escola pública isto é um problema”, assinala. Mas “ao ver que o docente de EMRC tem critérios de avaliação e uma planificação específica bem feita, faz testes, corrige-os e tem trabalhos discutidos na sala de aula, os restantes professores percebem (…) que a aula não é um intervalo”, acrescenta o professor, que é simultaneamente aluno de doutoramento em Teologia. A coerência entre vida e ensino é essencial: “O professor de EMRC tem o mandato do bispo para dar aulas. E na paróquia o prior tem de o conhecer e atestar que está em condições de lecionar, pelas qualidades técnicas e sobretudo cristãs que demonstra. A imagem e o testemunho são decisivos”, sublinha. Numa aula de EMRC deve haver espaço para perguntas que não estão nem no guião nem nos programas curriculares: “Preparo as aulas e por vezes eles destroem o esquema. Mas é preciso saber ir ao seu encontro”. “Várias vezes os alunos perguntam-me por que é que os padres não podem casar. Não posso dizer que isso não faz parte da matéria. Já sei que essa vai ser uma aula perdida – ou uma aula ganha porque vai ao encontro das suas questões e de outras que se levantam pelo meio”, refere. Os cursos superiores de teologia ou ciências religiosas são imprescindíveis para sustentar cientificamente as aulas: “Mais do que a minha opinião é-me pedido que transmita claramente o que a Igreja pensa”. RJM in agencia ecclesia |
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